Poema (1950 ou 1951)
Se eu soubesse exatamente porque a castanheira
parece estar a ponto de flamejar ou morrer, suas pirâmides
tremulam, eu te contaria? Talvez não.
Nós devemos manter o interesse por selos estrangeiros,
horários de trem, placares de baseball, e
psicologia anormal, ou tudo se perde. Eu
poderia te contar além do que eu e você
suportaríamos, e eu suponho que você responderia
com gentileza. É uma coisa terrível se sentir como
quem faz um piquenique e esqueceu o almoço.
E todas as coisas se resolvem sozinhas,
elas se entendiam sem nós antes. Mas deus,
fez tudo então! E agora é a nossa árvore
que está em flamas, ainda florescendo, como se
não tivesse nada melhor para fazer! Não temos nós
um dever com ela, como se ela fosse uma mina de ouro
nós sucumbimos a íngremes montanhas desertas,
ou a uma criança suja, ou a um abscesso fatal?
Tradução e seleção: André Caramuru Aubert
Publicado em 26 de janeiro de 2016 por Júlia Rodrigues
Frank O’Hara nasceu em Baltimore em 1926 – completaria portanto 90 anos esse ano. Foi curador do Museu de Arte Moderna de Nova York, escreveu crítica de arte e um imenso volume de poesia. Sua relação com a pintura e os pintores é complexa e já foi interpretada pela crítica de diversas maneiras. Por um lado, a importância de O’Hara no universo das artes lhe garante muito respaldo; por outro, como esclarece Marjorie Perloff no belo livro Frank O’hara – a poet among painters: “Porém, precisamente por sua estreita associação com a “Escola de Nova York”, O’Hara foi – e continua sendo – considerado uma figura do “mundo artístico” ao invés de um poeta sério”. O’Hara, além disso, não se encaixa bem em nenhum movimento poético dos anos 1950 – não se identificava com os beats e muito menos com os poetas confessionais – e sua morte prematura, aos 40 anos em decorrência de um atropelamento, o impediu de editar melhor sua obra. Perloff em seu livro discute de diversas maneiras o problema de ler O’Hara enquanto um poeta “menor”: na verdade, ela o considera um dois maiores poetas do pós-guerra. Curiosamente, o livro de Perloff sobre O’Hara também é considerado “menor” em sua bibliografia: não suscita no público nem de longe o mesmo interesse que A escada de Wittgenstein ou O momento futurista, teve apenas duas reedições desde 1977 (quando surge pela primeira vez), não foi traduzido para o português – assim como O’Hara tampouco teve ainda uma antologia em nosso país[1]. De minha parte, no entanto, considero Frank O’Hara – a poet among painters o melhor livro sobre poesia que Perloff já escreveu: a célebre autora nos fornece um bonito panorama da Nova York de O’Hara e realiza aqui algumas de suas leituras cerradas mais brilhantes. (Aqui um texto de Marjorie Perloff, em inglês, sobre como ela vê hoje a poesia de O’Hara).